E o domingo de Páscoa chegou – e se foi! E, com ele, também se foram as caixas que trouxeram muitos dos ovos e guloseimas entregues pelo coelhinho às crianças, em suas casas. Tudo agora se amontoa na rua, nas lixeiras abarrotadas nas calçadas: excessos turbinados pela pandemia? Talvez… mas será só isso?
O que, para muitos povos, simboliza fertilidade, nascimento e vida, dar e receber um ovo de chocolate, atualmente, passou a ser mais um dos momentos em que consumir esses produtos nos permite, mesmo que indiretamente, realizar desejos e experimentar novas sensações: prosperidade, sofisticação, bem-querer, e por aí vai!
No meio desse êxtase sensorial, encontrei, no domingo de manhã, alguns consumidores de última hora, em frente às prateleiras já quase vazias do supermercado. Alguns se perguntavam a real necessidade de tudo aquilo, talvez movidos pelas frustrações frente às parcas opções... Era possível ver – e escutar – uma mãe, tentando convencer seu marido quanto ao melhor produto a ser comprado, explicando que o ovo da Pan deixaria seu filho tão feliz quanto o que trazia brinquedos importados dentro – esgotado no mercado há uma semana. O marido, aparentando pressa em sair do recinto, revirava os olhos, como que em protesto às palavras da mulher.
Lidar com desejos, vontades e necessidades não é tarefa fácil, e equilibrar isso tudo quando se tem filhos, e é necessário dar o exemplo, complica ainda mais a equação. Porém, volto ao que sempre parece dar certo – complicou? Sem receita pronta: tá na hora do bate-papo, do papo reto, como dizem os jovens!
Quando estas questões aparecem em casa, os filhos, em geral, já têm maturidade para conversar sobre os motivos por trás de suas vontades (e das nossas!?). Para mudar qualquer comportamento, principalmente o de querer tudo – ou quase tudo – o que o nosso dinheiro pode comprar, é preciso olhar antes para o que está por trás dessas vontades, aprender que, entre querer, precisar e poder existe uma grande diferença e que, no fundo, para sermos felizes, não precisamos da última versão do smartphone e nem do carro dos sonhos, anunciado na TV nos intervalos dos programas. Menos ainda do chocolate importado.
Os relacionamentos que estabelecemos com as pessoas mais próximas de nós são a chave da realização em nossas vidas e, para entenderem isso, nossos filhos precisam de nós, de tempo e de espaço para conversarem sobre o que sentem e sobre o que toda a família pensa sobre o assunto ter, querer e poder.
Pedir ajuda quando tudo parece sair de controle e nossos filhos se transformam em modelos de consumo exagerados é um primeiro passo. Lembrem, porém, que a conversa no dia a dia e em todo momento de compra – da feira semanal aos presentes de aniversário – são, sim, momentos de aprendizado. Para eles e para nós!
Dito isso, seria fácil concluir: Feliz Páscoa! Mas, e para quem tem filhos e é divorciado?
Proponho um desafio: o domingo já passou, mas ainda dá tempo de exercitar a generosidade, talvez ajudando suas crias a pensarem em algo especial para o pai ou a mãe deles. Desafio demais para o seu caso? Mágoas ainda não resolvidas? Coração ainda pesado? Respire fundo e pense na importância dos relacionamentos na vida do (s) seu (s) filhos, comece a construir esse espaço em sua mente e pratique a compaixão, a começar por você.
Dito isso, o próximo passo é contigo. Permita-se.
Vanessa Meirelles Psicopedagoga Pesquisadora da Identidade Humana Membro da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp 722

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