Você conhece essa cena? Família saindo para o aeroporto em cima da hora enquanto os mais novos tentam calçar os próprios sapatos e amarrar seus cadarços… Depois da terceira tentativa, um grito : "vai logo, a gente vai perder o vôo!" O processo é interrompido por alguém mais velho que toma o sapato em suas mãos, faz o laço e avisa aliviado: "pronto, vamos!"
Diante da aparente demora em torno das atividades mais simples do dia a dia é comum os adultos assumirem para si a empreitada, sem perceberem o efeito de suas ações para quem ainda está aprendendo a cuidar de si. O neurocientista Antônio Damásio afirma que conquistar autonomia, mesmo nas tarefas aparentemente fáceis, tem grande impacto no desenvolvimento neurológico e consequentemente na saúde mental das crianças e jovens. Então ser autônomo é importante? Parece que sim…
Durante as férias, com os pais e os familiares por perto, as crianças percebem rapidamente que há sempre alguém a postos para ajudá-las a realizar muito do que já são capazes de fazerem sozinhas; e quando isso acontece todos geralmente se acomodam… Será que ainda dá tempo de escaparmos dessa situação?
Bom, 2022 ainda não acabou e às vésperas das festas de fim de ano ainda é SIM um bom momento de recuperarmos o tempo perdido, ou melhor, a autonomia interrompida! O primeiro passo talvez possa vir no formato de pergunta, daquelas que fazemos para nós mesmos: que tipo de adulto eu sou na interação com os que ainda estão aprendendo a dar o laço em seus sapatos?
Pesquisas revelam que o tipo de adulto sempre a postos para "fazer mais rápido" pode dar às criança a impressão de que elas não são capazes, ou de que seus erros não serão tolerados. Ou seja, impede-se o aprendizado para lidar com a frustração de não conseguir algo e de aprender a persistir diante do novo ou do que é percebido como desafiador.
Sem exercitar sua autonomia durante o período de férias ensinamos aos mais novos uma lição diferente da que esperamos que eles coloquem em prática no retorno às aulas: resolver problemas com criatividade, exercitando a liberdade de tomar decisões e arcar com seus efeitos.
Paciência parece ser a palavra chave nesse momento pois para aprender a aprender é necessário enxergar todos os erros do percurso como um passo na direção de pertencer ao mundo dos que "conseguem fazer".
Fica a pergunta: será que cabe um pouco mais de autonomia na sua mala de férias?
Um abraço e boas festas em família.
Vanessa Meirelles
Psicopedagoga Pesquisadora da Identidade Humana
Mestre em Psicologia Social pela PUC São Paulo
Membro da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp 722
Comentarios